sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Nosso Sócrates

"É um azar, pior para o futebol”, disse Sócrates após a derrota da seleção brasileira para a Itália na Copa do Mundo de 1982. Foto: Jorge Duran/AFP


Nunca houve um ídolo como Sócrates

Bons jogadores surgem todos os anos. Só alguns viram ídolos. Desde o começo dos anos 90, quando fomos picados pela praga do futebol, vimos nascer muitos craques (e muitos tantos se perderem).

Na ordem: Raí (irmão de Sócrates), Edmundo, Rivaldo, Edílson, Ronadinho (hoje Ronaldo), Amoroso, Marcelinho Carioca, Giovani, Rogério Ceni, Luis Fabiano, Alex, Ronaldinho (o Gaúcho), Kaká, Robinho, Adriano, Fred, Kleber, Ganso e, agora, Neymar.

Desses, alguns já deixaram de jogar, e poucos, a muito custo (e com o devido distanciamento temporal), ainda podem ser chamados de craques.

Entre todos eles, e tantos que não dá nem para citar, poucos podemos dizer que são, de fato, especiais, revolucionários, exemplares. Engajados, então…

Mesmo com o selo de embaixadores de entidades como a Unicef ou órgãos representativos (como a CBF…) ao longo ou ao fim da carreira, nenhum desses jogadores teve leitura melhor de seu esporte, de seu tempo e de seu País do que Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, morto na madrugada deste domingo 4.

Não, não vimos Doutor Sócrates em campo. Nós, que ainda não chegamos aos 30, dele sabemos apenas dos melhores momentos, pela tevê, de uma Copa que se acabava quando mal tínhamos nascido – e que foi a prova de que não é preciso ser campeão para ser inesquecível. Uma seleção em que Sócrates era maestro e referência.

Fora de campo, nenhum ex-jogador foi tão presente como ele. Pelé virou garoto-propaganda (poucas vezes o vimos falar algo que não fosse ensaiado, escrito anteriormente para campanhas para a educação ou disfunção sexual); Garrincha morreu novo, sem deixar grandes reflexões sobre seu ofício; Rivelino e Falcão, ambos acima da média, viraram comentaristas (um já se arriscou como dirigente e outro, como treinador).

Zico virou boa-gente, daqueles que se pode ficar a tarde toda falando sobre o mundo da bola, o Rio, o Japão, os bastidores da Copa, a relação com a torcida. É diferenciado.

E Romário começa a mudar paradigmas, com uma atuação implacável como deputado federal eleito pelo Rio.
Sócrates Brasileiro - 1954 - 2011. Foto: U. Dettmar/ABr

E paramos aqui. Quem não sumiu (ou se omitiu), anda por aí fazendo o elogio da ignorância no papel de arrivista de primeira linha – daqueles que se infiltram entre os boleiros para desfilar preconceitos ao vivo na tevê. Um certo ex-meio-campo que virou comentarista é talvez o maior exemplo deles, uma espécie de porta-voz de atletas mimados, pipoqueiros, vazios e malcriados.

Mas Sócrates era outra coisa. Ninguém tinha tanto a falar sobre o mundo em que viveu e o mundo que deixaria como herança – um mundo um pouco melhor do que o seu, mais aberto, mais democrático. Tão democrático que, quando soube que precisaria de um transplante de fígado para se curar, lembrou, a quem quisesse ouvir, que era um cidadão como qualquer outro. E que, portanto, deveria esperar sua vez, na fila para doação, como qualquer brasileiro – sem privilégios, lobbies, choros ou vela..

Sócrates chamava a atenção desde as categorias de base de seu Botafogo, de Ribeirão Preto. Destacava-se dentro das quatro linhas, e chamava a atenção dos repórteres que o viam em alguma preliminar dos juniores. Quando alguém demonstrava admiração pelo seu futebol, os repórteres da região que já o conheciam avisavam: “E olhe que ele não tem tanto tempo para treinar. É estudante de medicina”.

As condições sociais, as pressões, os compromissos dentro e fora de campo tornam quase uma covardia dizer que, como Sócrates, todos deveriam ter as mesmas referências, os mesmos estudos, a mesma base, a mesma formação.

Ele fez a escolha pela bola, e a maioria, não.

É fato que poucos corintianos seriam capazes de deixá-lo fora de uma seleção dos melhores jogadores de todos os tempos. Mas, diferentemente da maioria, a bola para ele nunca foi uma ponte apenas para o sucesso, a fama, a idolatria.

A bola, para Sócrates, foi uma espécie de palanque que lhe permitiu compartilhar ideias, críticas, indignação verdadeira com o estado das coisas.
Sócrates, ao lado do presidente Lula, durante partida entre políticos e ex-jogadores na Granja do Torto, em Brasília, em 2005. Foto: U. Dettmar/ABr
Quem se não ele? Dotado de uma inteligência que, no meio-campo, permitia ver espaços e jogadas que ninguém mais via, com a rapidez que só os gênios da bola dominam, Sócrates era também um visionário das brechas de seu tempo, de sua história. Uma história da qual sempre foi sujeito ativo. Coragem para isso não lhe faltou.

E é essa imagem que levamos dele. Brilhar pode não ser fácil. Mesmo assim, muitos brilharam, muitos driblaram, muitos marcaram gols antológicos e correram para a torcida.

Ao fim do jogo, o que disseram para toda essa gente de pé, que aplaude e vaia (e ouve)? Que espetem seus cabelos à moicano? Que usem faixas na testa? Que comprem o maior número de carros importados para apagar qualquer resquício das origens humildes?

Ou que rasguem bandeiras, pensem e lutem por um mundo melhor, menos desigual, mais humano? E dialoguem de igual para igual com cartolas (muitos ainda são déspotas, esclarecidos ou não), jornalistas, poder público?

De Sócrates não haverá grande jogada, gol ou vibração que se compare com a sua postura, coerência, engajamento e inteligência fora de campo.

O mundo seria melhor se houvesse dois Sócrates a cada século.


*Texto escrito a quatro mãos por Matheus Pichonelli e Fernando Vives
Fonte: Carta Capital

Acre: Primeiro shopping muda cenário econômico

9/12/2011 10:46, Por Redação, com Reuters - do Rio Branco/Acre
Via Verde Shopping
O Estado espera um aumento significativo na arrecadação fiscal graças ao shopping Via Verde,
que para muitos não é o primeiro do Acre

Às vésperas do Natal, os moradores de Rio Branco poderão, pela primeira vez, escolher entre fazer suas compras nas tradicionais lojas de rua ou no conforto de um shopping center. Foi apenas há um mês que o Acre, no ponto extremo do Brasil, ganhou seu primeiro shopping.
Reflexo do contínuo desenvolvimento econômico de Rio Branco, que reúne quase metade da população do Estado -um dos menos povoados do país-, o Via Verde Shopping recebeu investimentos da ordem de R$150 milhões e, ao gerar 2.200 empregos diretos, passou a ser o maior empregador privado do Acre.
O montante investido era o mesmo previsto inicialmente em vendas para o primeiro ano de operação do shopping. A estimativa foi elevada para R$200 milhões, após desempenho visto no primeiro mês, quando o público foi de 400 mil pessoas, número bem acima do esperado. Em novembro, o faturamento foi de R$10 milhões, montante que deve dobrar no último mês do ano.
– Na rua as lojas são muito espalhadas, aqui tem tudo junto. A gente anda menos sem passar calor– , disse o músico Renato Melo, acompanhado da manicure Ivone da Silva, que acrescentou: “é muito bom o conforto e o ar condicionado”.
Com 138 lojas e um hipermercado, o Via Verde é um shopping térreo em uma área de 120 mil metros quadrados em uma localidade ainda pouco explorada da capital acreana, cercada de vegetação e terrenos disponíveis.
O Estado espera um aumento significativo na arrecadação fiscal graças ao shopping, que deve ter todas as lojas em operação em janeiro.
– As condições econômicas do Acre ganharam fôlego na última década. Com o shopping, a economia do Estado está integrada pela primeira vez– disse à agência inglesa de notícias Reuters o secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio do Acre, Edvaldo Magalhães (PCdoB).

Vetor de crescimento

O governo estadual e a prefeitura da capital se encarregaram de criar a infraestrutura no entorno do empreendimento. O local não tinha, por exemplo, rede de esgoto.
Agora, a área do Via Verde pode se tornar o vetor de crescimento de Rio Branco. O Carrefour, por exemplo, instalará sua primeira loja no Acre (sob a bandeira Atacadão) em um terreno que acabou de adquirir naquela região. O governo estadual, por sua vez, está levando alguns dos prédios de órgãos públicos para as redondezas do shopping.
– Além de garantir uma opção a mais para os consumidores, (o shopping) puxou outros serviços e ocupou o espaço da carência de lazer na cidade– acrescentou o secretário.
A carioca Landis Shopping Centers, operadora responsável pela construção e administração do Via Verde, começou a “olhar” o Acre há cerca de seis anos. Rio Branco era uma das potenciais cidades para abrigar o primeiro empreendimento do grupo na região Norte.
Não fosse a crise econômica mundial em 2008, que travou os investimentos e projetos de forma generalizada, o Acre teria recebido seu primeiro shopping dois anos antes.
– Além da demanda, um fator preponderante para instalar um shopping é ter investidores dispostos a apostar nesses mercados– disse o presidente da Landis, Dorival Regini. “Há dez anos, ninguém queria investir em imóvel, que era sinônimo de baixo retorno. Com mais disponibilidade de recursos, os investidores passaram a buscar mais oportunidades.”
A Landis tem como sócios no Via Verde a gestora de fundos Prosperitas, a consultoria e gestora de recursos Bicar e a empresa do segmento imobiliário LGR.

Mudança de hábito

O shopping pode ser responsável por uma mudança radical no comportamento do consumidor, que costumava ir às compras em Cobija, na Bolívia, fronteira com a cidade acreana de Brasileia, em busca de eletrônicos, roupas e brinquedos mais baratos por praticamente não haver incidência de impostos.
Nos corredores do shopping de fachada e decoração simples, é mais comum encontrar pessoas fotografando umas às outras do que carregando sacolas de compras.
– A população não tem hábito de comprar em shoppings, e isso não muda da noite para o dia. O consumo em shoppings vai sendo incorporado à cultura do local, mas leva tempo– afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da FIA, Cláudio Felisoni.
Segundo a operadora do shopping, uma das reclamações mais frequentes envolve a cobrança de R$3 pelo uso do estacionamento por um período de 3 horas. O Via Verde possui 1.169 vagas de estacionamento descoberto.
E o preço dos produtos ainda parece afugentar os consumidores, que elegeram o shopping como um ponto de encontro e espaço de lazer seguro e agradável na cidade onde os termômetros chegam a marcar 42 graus durante o dia.
– Estava precisando de um shopping, mas ainda falta muita coisa. Achei mais caro, em outros Estados é mais barato– disse a enfermeira Ana Araújo.

O mito da escada rolante

Somada às questões envolvendo o preço por produtos e serviços, os comentários sobre o formato do primeiro shopping local ganharam proporções além do esperado. Tudo porque o Via Verde não possui escadas rolantes.
– Optamos pelo shopping térreo pelo custo operacional de construção e manutenção. Mas, na cabeça do consumidor, shopping tem que ter escada rolante– reconheceu Regini, da Landis.
O departamento de marketing do shopping administra diariamente reclamações e críticas envolvendo a ausência de escadas rolantes no local.
Outra discussão polêmica envolve a apresentação do Via Verde como primeiro shopping do Acre. Para muitos, o Mira Shopping, criado no final da década dos anos 1990 por uma família de empreendedores locais, no centro de Rio Branco, deveria ser considerado o precursor.
No formato de galeria, o Mira não conseguiu atrair lojas-âncora, o que foi apontado como motivo para seu fracasso.
– O Mira Shopping tinha escada rolante… Era shopping mesmo. (O Via Verde) é um galpão cheio de lojas. Esperava algo melhor, no padrão de outros Estados– reclamou o gerente de uma loja de CDs e DVDs numa das ruas de comércio popular de Rio Branco.

Comércio de rua

Embora a instalação do Via Verde Shopping seja vista com bons olhos por associações, empresários e pela própria população, o empreendimento ainda enfrenta certa resistência de consumidores sem o hábito de comprar em complexos desse tipo.
Entre os lojistas, principalmente aqueles de rua, o sentimento também foi de descrédito e pessimismo.
– O shopping chegou como opção para as classes A, B e C. As classes inferiores seguem no comércio de rua– assinalou o presidente da Associação Comercial e Industrial do Acre, João Batista Fecury Bezerra.
Segundo ele, um dos principais papéis do shopping é o de incentivar a concorrência. Desde a construção do Via Verde, os comerciantes de rua em Rio Branco vêm se reestruturando em termos de política de preços e de marketing, para se adaptar e competir com as condições do shopping.
– (O shopping) ainda não refletiu em queda nas vendas de rua, mas depois do Natal deve acirrar– acrescentou Bezerra.
Gerente de uma loja popular de moda jovem, Adriano do Valle discorda e garante não temer qualquer retração no movimento da loja. “Não teve, nem vai ter (queda nas vendas). O público que compra aqui não compra em shopping”, disse, referindo-se às lojas concentradas em uma galeria no centro de Rio Branco.
Com os mesmos preços praticados nas lojas de rua, a rede popular Casa da Sogra, tradicional da região Norte, instalou uma unidade no Via Verde, onde traçou a meta de faturamento de R$800 mil para dezembro. Segundo o gerente Jaderson Soares, as vendas já estão maiores que o esperado, com uma média diária de R$20 mil a R$30 mil.
– A região Norte é a que mais cresceu de 2004 para cá e tem grande potencial para ser explorada em termos de consumo justamente pela migração das classes de renda– afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da FIA, Cláudio Felisoni. “É um processo natural de expansão. As empresas estão migrando para centros de menor atratividade, que estão sendo incorporados ao mapa de consumo”.

Fonte: Correio do Brasil - http://correiodobrasil.com.br/

A Privataria tucana


Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr. CartaCapital relata o que há no livro

Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter, que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial.
'A Privataria Tucana', de Amaury Ribeiro Jr.
Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9,CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 páginas publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.
Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.
O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou  no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.
A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada porCartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.
Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.

CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?
Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.
CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?
ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.
CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?
ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).
CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?
ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.
CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?
ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.
CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?
ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.
CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?
ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.
CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?
ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.
CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.
ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.

Fonte: Carta Capital (http://www.cartacapital.com.br/)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CHAMADA DE ARTIGOS: DOSSIÊ “História, Natureza, Cultura e Oralidade”

Revista Nº 13 de 2010: Dossiê - Questões teóricas e metodológicas

REVISTA HISTÓRIA ORAL – PUBLICAÇÃO DAASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HISTÓRIA ORAL (ABHO)

CHAMADA DE ARTIGOS: DOSSIÊ “História, Natureza, Cultura e Oralidade”

ORGANIZADORES: MARCOS MONTYSUMA (UFSC) e EURÍPEDES FUNES (UFC)

DATA-LIMITE PARA ENVIO DEARTIGOS: 15/03/2012

O presente número da RBHO tem como dossiê “História,Natureza, Cultura e Oralidade”. Busca-sediscutir as relações entre o homem e seu ambiente,na perspectiva da história ambiental, um novo campoque vem se firmando na produção historiográficabrasileira nos últimos tempos. Trata-se de refletirsobre a relação entre natureza e cultura, em suasmúltiplas possibilidades. Tomar a paisagem comofonte e entender que a paisagem construída expressacultura. Neste sentido, as temáticas e objetos deinvestigação são de possibilidades amplas, passandopelo processo de ocupação e exploração etransformação do meio ambiente e os impactosambientais, os movimentos sociais e as lutas pelodireito aos bens da natureza em seus mais diferentesbiomas. Debates sobre o desenvolvimento sustentável,o agronegócio, espaços de trabalho, ambiente fabril,moradia, memórias, entre tantos outros. As fontespara os estudos no campo da história ambiental sãoas mais diversas. Aqui nos interessa os artigos quetrazem como fontes fundamentais narrativas,depoimentos, de sujeitos que vivenciaramexperiências onde natureza e cultura seentrecruzam.

 Observação: a Revista HistóriaOral também aceita artigos com temáticasvariadas, entrevistas, resenhas e colaborações paraa seção multimídia.
  
ABHO - AssociaçãoBrasileira de História Oral
http://www.historiaoral.org.br/

domingo, 27 de novembro de 2011

MANIFESTO PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA USP

Foto: g1.globo.com

CONVITE PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA USP

Este é um convite para o senhor (a) assinar este manifesto. Que teve sua origem em dois fatos: a proposta de construção de um monumento "às vítimas da revolução de 64" como o chamou a reitoria em um primeiro momento, e à violenta repressão que se desencadeou no campus após a ocupação da reitoria.

Nós, que organizamos o Manifesto, entendemos que um monumento aos uspianos que tombaram na luta contra a Ditadura Militar é fundamental para preservar a memória deles. Mas entendemos também que não podemos aceitar um monumento construído por uma administração que prima no uso da ideologia e das práticas autoritárias deixadas por Gama e Silva através do estatuto que rege a USP ainda hoje, em especial o regimento disciplinar, redigido em 1972.

Em razão disso, estamos mobilizando ex-uspianos e não uspianos perseguidos pelo regime, familiares dos que foram assassinados e professores da USP e de outras universidades públicas que sejam solidários, para assinar este documento, onde se reivindica a democratização da USP, única universidade pública brasileira que ainda tem um processo eleitoral indireto, além de outras barbaridades estatutárias deixadas por Gama e Silva e utilizadas pelo reitor João Grandino Rodas, sem falar nas atualizações levadas a termo por grupos pouco representativos da comunidade uspiana.

Abaixo segue o Manifesto na íntegra, bem como quem já o assinou. Caso queira subscrevê-lo, por favor, encaminhe e-maill para DEMOCRACIAUSP@GMAIL.COM, passando nome e dados simples sobre sua relação com a USP e os fatos ocorridos então, e se seu nome deve entrar na primeira ou segunda coluna.

Entendemos que não podemos nos omitir diante desta grave situação que perdura sem perspectiva de mudanças, onde os conflitos na USP se reatualizam ano após ano, tendo em vista o espaço quase inexistente de participação efetiva da maioria dos que atuam na USP. Trabalhamos por uma estatuinte livre, soberana e democrática.

MANIFESTO PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA USP

Nós, perseguidos pelo regime militar, parentes dos companheiros assassinados durante esses anos sombrios e defensores dos princípios por eles almejados assinamos este manifesto como forma de recusa ao monumento que está sendo construído em homenagem às chamadas “vítimas de 64” na Praça do Relógio, Cidade Universitária, São Paulo.

Um monumento na USP já deveria há muito estar erguido. É justo, necessário, e precisa ser feito. Porém, não aceitamos receber esta homenagem de uma reitoria que reatualiza o caráter autoritário e antidemocrático das estruturas de poder da USP, reiterando dispositivos e práticas forjadas durante a ditadura militar, tais como perseguições políticas, intimidações pessoais e recurso ao aparato militar como mediador de conflitos sociais. Ao fazer isso, esta reitoria despreza a memória dos que foram perseguidos e punidos pelo Estado brasileiro e pela Universidade de São Paulo por defenderem a democratização radical de ambos.

Esse desprezo pela memória dos que sofreram por defender a democracia, dentro e fora da Universidade, se manifesta claramente na placa que inaugurava a construção de tal monumento. A expressão “Vítimas da Revolução de 1964” contém duas graves deturpações: nomeia de “vitimas” os que não recearam enfrentar a violência armada, e, mais problemático ainda, de “revolução de 1964” o golpe militar ilegal e ilegítimo.

Essa deturpação da linguagem não é, portanto, fortuita. Resulta da ideologia autoritária predominante na alta cúpula da USP.

Durante a ditadura, essa ideologia autoritária levou a direção central da USP a perseguir, espionar, afastar e delatar muitos dos que então resistiam à barbárie disseminada na Universidade e na sociedade brasileira como um todo. Ainda macula a imagem desta Universidade a dura lembrança (i) dos inquéritos policiais-militares, instaurados com apoio ou conivência da reitoria; (ii) das comissões secretas de vigilância e perseguição; (iii) das delações oficiais de alunos, funcionários e professores para as forças de repressão federais e estaduais; (iv) da mobilização do aparato militar na invasão do CRUSP e da Faculdade de Filosofia em 1968; (v) da colaboração quase institucional da USP, na figura do seu então reitor, Luis Antonio Gama e Silva, na redação do Ato Institucional Número 5 – AI5; (vi) e da aprovação, por Decreto, do regimento disciplinar de 1972, que veda a docentes e discentes qualquer forma de participação política e confere à reitoria poder para perseguir os que o fazem.

Atualmente, essa mesma prática autoritária se manifesta não apenas na inadmissível preservação e utilização do regimento disciplinar de 1972 para apoiar perseguições políticas no interior da Universidade, mas também (i) na reiterada recusa da administração central da USP em reformar o seu estatuto antidemocrático, mais afeito ao arcabouço jurídico da ditadura militar do que à Constituição Federal de 1988; (ii) na forma pouco democrática das eleições dos dirigentes da USP, que assume sua forma mais absurda no processo de escolha do reitor por meio de um colégio eleitoral que representa menos de 1% da comunidade universitária; (iii) na ingerência do governo do Estado na eleição do reitor desta Universidade; (iv) e, mais grave ainda, na recorrente mobilização da força policial-militar para a resolução de conflitos políticos no interior desta universidade, tal como ocorreu, recentemente, na desocupação da reitoria da USP.

Nesse sentido, em memória dos que combateram as práticas da barbárie autoritária e suas manifestações, defendemos que a melhor forma de homenagear os muitos uspianos e demais brasileiros que tombaram nesta luta não é um monumento; mas, sim, a adoção dos princípios verdadeiramente democráticos em nossa Universidade, o que demanda o fim do convênio com a Polícia Militar, bem como o fim das perseguições políticas pela reitoria e pelo Governo de São Paulo a 98 estudantes e 5 dirigentes sindicais, através de processos administrativos e penais, e a imediata instauração de uma estatuinte livre, democrática e soberana, eleita e constituída exclusivamente para este fim.


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Assinatura de familiares de mortos e desaparecidos, de perseguidos pela ditadura. Uspianos e não uspianos.

Assinatura de professores da USP e de outras universidades brasileiras
Takao Amano*
Luiz Dagobert de Aguirra Roncari**
Adriano Diogo*
Artur Scavone**
Wilson Barbosa**
Florestan Fernandes (Família assina em memória)
Carlos Neder*
Chico de Oliveira**
Leonel Itaussu Almeida Mello**
Carmem Silvia Vidigal**
José Damião de Lima Trindade***
Carlos Eugênio Paz***
Luís Carlos Prestes (Família assina em memória)
Carlos Eugênio Clemente***
Mário Maestri***
Emir Sader*
Fernando Ponte de Souza*
Anivaldo Padilha ***
Marly de Almeida Vianna ***
Carlos Alberto Lobão Cunha*
Lúcia Rodrigues*
Maura Gerbi Veiga*
Núcleo de Preservação da Memória Política
Luiz Costa Lima ***
John Kennedy Ferreira***
Rui Falcão *
Ivan Seixas ***
Enzo Luis Nico Jr. *
(*) Ex-uspiano
(**) Em atividade na USP
(***) Não uspiano
Marilena Chaui (USP/Filosofia)
Jorge Luiz Souto Maior (USP/Direito)
Heloísa Fernandes (USP/DS)
João Adolfo Hansen (USP/DLCV)
Daciberg Lima Goncalves (USP/IME)
Klara Kaiser Mori (USP/FAU)
Leda Paulani (USP/FEA)
Cilaine Alves Cunha (USP/DLCV)
Luiz Renato Martins (usp/eca)
Paulo Capel Narvai (USP/FSP)
Ricardo Musse (USP/DS)
Gilberto Bercovici (USP/Direito)
Deisy Ventura (USP/IRI)
Adma Muhana (USP/DLCV)
Mario Miguel González (USP/DLM)
Paulo Eduardo Arantes (USP/Filosofia)
Vladimir Safatle (USP/Filosofia)
Leon Kossovitch (USP/Filosofia)
Lincoln Secco (USP/DH)
Flavio Aguiar (USP/DLCV)
Otilia Beatriz Fiori Arantes (USP/FAU)
Celso Fernando Favaretto (USP/FEUSP)
Henrique Carneiro (USP/DH)
Laura Camargo Macruz Feuerwerker (USP/FSP)
Sandra Guardini T. Vasconcelos (USP/DLM)
Sergio Cardoso (USP/Filosofia)
Adrián Fanjul (USP/DLM)
Vera Silva Telles (USP/DS)
Pablo Ortellado (USP/EACH)
Vitor Henrique Paro (USP/FEUSP)
Luiz Armando Bagolin (IEB/USP)
Osvaldo Coggiola (USP/DH)
Marta Maria Chagas de Carvalho (USP/FEUSP)
Paulo Silveira Filho (USP/DS)
Francisco Alambert (USP/DH)
Paulo Martins (USP/DLCV)
Sean Purdy (USP/DH)
Marcus Orione (USP/Direito)
Áquilas Mendes (USP/FSP)
Iumna Maria Simon (USP/DTLLC)
Mário Henrique Simão D Agostino (USP/FAU)
Helder Garmes (USP/DLCV)
Ruy Braga (USP/DS)
Francis Henrik Aubert (USP/DLM)
Vera Pallamin (USP/ FAU)
Jefferson Agostini Mello (USP/EACH).
Jorge Machado (USP/EACH)
Maria Rita de Almeida Toledo (Unifesp/HISTÓRIA)
Marcos Del Roio (Unesp/FCC)
Caio Toledo (Unicamp)
Anita Leocádia Benário Prestes (UFRJ/História)
Roberto Leher (UFRJ)
Lincoln de Abreu Penna (UFRJ)
Arley R. Moreno (Unicamp/Filosofia)
Francisco Foot Hardman (Unicamp/IEL)
Márcio Bilharinho Naves (Unicamp/IFCH)
Maria Ribeiro do Valle (Unesp/FLC/Araraquara)
Amarildo Ferreira Junior (UFSCar)
Carlos Zacarias F. de Sena Jr. (UFBA/FFCH)
Milton Pinheiro (Uneb/ICP)
Patrícia Vieira Trópia (UFU)
Sérgio Braga (UFPR)
Margareth Rago (Unicamp)
João Francisco Tidei Lima (Unesp)
Ricardo Martins Valle (UESB)
Carlos Zeron (USP/História)
Paulo Henrique Martinez (Unesp/História)
Maurício Vieira Martins (UFF/Sociologia)
Jorge Antunes (UnB/Música)
Luiz Armando Bagolin (USP/IEB)
Diorge Alceno Konrad (UFSM/História)
Glaucia Vieira Ramos Konrad (UFSM)
José Menezes Gomes (UFMA)
Sérgio Prieb (UFSM/Economia)
José Jonas Duarte da Costa (UFPB)
Marília Flores Seixas de Oliveira (UESB)
Guilherme Amaral Luz (UFU)
Anita Handfas (UFRJ)