sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Historiador Daniel Aarão Reis e sua carta aberta sobre a greve.

Sobre a Greve

O historiador Daniel Aarão Reis - Agência O Globo


Prezados, saúde e paz, conforme disse em sala de aula, aqui vão algumas reflexões sobre o movimento grevista que ora se anuncia na Universidade Federal Fluminense e em outras universidades públicas.

Vivemos hoje, e tudo indica que viveremos nos próximos anos, tempos difíceis do ponto de vista das relações entre governo e educação, em geral, e entre governo e universidades públicas, em particular. A presidenta, uma vez eleita, e ao contrário de tudo o que prometera na campanha que a elegeu, resolveu definir como política de "saída de crise" um conjunto de propostas que se assemelham em tudo e por tudo ao que seus adversários queriam realizar. Como em muitos países do mundo, vem por aí um "ajuste", cujo custo será pago pelos trabalhadores e pelas camadas populares. A cartilha já foi aplicada na Europa e em outras partes do mundo. O resultado? Menos e mais precários serviços públicos, menos e mais precários direitos sociais, menos e mais precárias perspectivas para a melhoria do padrão de vida das grandes maiorias.

As Universidades Públicas sofrerão, já estão sofrendo, o impacto deste "ajuste" – verbas "contingenciadas", ou seja, cortadas; salários congelados ou, no melhor dos casos, reajustados abaixo da inflação, cujos índices são maquiados. Nem preciso falar dos resultados, eis que são visíveis a olho nu.

Para enfrentar, e superar positivamente, as ameaças, vai ser preciso muito conversar e debater, e lutar, para lidar com esta conjuntura que se anuncia de "vacas magras" (podem por magreza nisto). Para isto, a universidade deve continuar funcionando, viva.

Entretanto, como de sua tradição, as entidades de professores, funcionários e estudantes voltam a propor a sua cantiga de uma nota só: "vamos à greve˜!

A proposta é anunciada, discutida e decidida por pequenas minorias de ativistas iluminados, sem representatividade, concentradas em assembleias não precedidas de reuniões locais ou setoriais (departamentos, institutos, etc.). Carecem, portanto, de legitimidade. Trata-se também de um dispositivo tradicional, que isola as entidades de suas bases sociais. Para uma luta de longo fôlego, como a que teremos pela frente, não é um bom começo.

Mas não me oponho a esta greve, como me opus a outras, apenas por estas considerações, já bastante relevantes em si mesmas.

O que me parece também muito importante é que, nesta greve, como em outras, do passado, apenas são penalizados os cursos de graduação. Só param, quando param, as aulas dos cursos de graduação. As pesquisas continuam a todo o vapor. Os Programas de Pós-Gradação, também. Continuam sendo escritos artigos e livros, apresentados em Congresso não adiados, ou desmarcados. Projetos financiados continuam a ser implementados. É tão evidente que chega a ofuscar: só param mesmo os cursos de graduação.

O prejuízo seria, porém, concebível, se a forma de luta adotada fosse eficaz. Mas não é. Quem não se lembra da paralisação da semana passada? Onde vingou, o que tivemos? Uma universidade deserta, sem viv’alma, fechada. Debate? Zero! Discussão? Zero. Capacidade de pressão? Nula.

A verdade é que, como já foi demonstrado em muitos outros momentos, a situação do sistema educacional torna-se assunto "público", e se realizam pressões efetivas em prol de medidas positivas para a educação pública, quando estudantes, professores e funcionários conseguem ir para as ruas, apresentando à sociedade suas reivindicações, impondo-se, pelo seu movimento social, à atenção das gentes e à agenda dos governos. A greve nos serviços públicos é uma infeliz mimetização dos movimentos operários, ou dos segmentos que trabalham nos setores produtivos. Ao invés de prejudicar os patrões, prejudica apenas e tão somente os usuários dos serviços, no nosso caso, os cursos de Graduação.

A greve, "por tempo indeterminado", não qualifica o debate, anula-o; não acumula forças, dispersa-as; não concentra, fragmenta e pulveriza; não fortalece, enfraquece.

Não é uma forma de luta consequente e por isso deve ser evitada e rejeitada. Só é razoável concebê-la em momento ou dias de manifestação. Aí, sim, ela pode se justificar. Parar aulas e cursos, e redação de artigos e provas, para ir às ruas, protestar nelas, agitando, politica e culturalmente, a sociedade.

Acresce ainda, e finalmente, uma última razão. É que os grevistas do serviço público no Brasil, pelo absoluto descaso com que são estes últimos tratados pelos governos, têm seus salários regularmente pagos no fim de cada mês, estejam ou não trabalhando. Como já disse em outros momentos, se os trabalhadores do mundo soubessem que é possível fazer greve ganhando salários...ai do Capitalismo, não haveria um que não paralisasse imediatamente o trabalho.

Por todas estas razões, prezados, continuarei oferecendo meus cursos. Se a universidade estiver fechada, trabalharemos nos gramados do campus, com belas vistas para o mar e para as montanhas. Reconhecerei o direito dos estudantes que divergem destas considerações e não computarei suas faltas, oferecendo-lhes, quando, e se voltarem, às aulas, avaliações de conhecimentos apropriadas. Mas informo, desde já, que não pretendo repor aulas. Por duas razões: porque elas terão sido dadas, e por não acreditar na eficácia da reposição, mesmo quando ela se realiza, o que não é sempre o caso, infelizmente.

Divulgarei o presente texto para minhas bravas turmas e para os professores de História. É livre, naturalmente, sua divulgação.

Que todos façam o que lhes ditarem as próprias consciências.

Quanto a mim, como disse um velho revolucionário em momentos de incerteza: Dixi, et salvavi animam meam (Disse, e salvei a minha alma).

Daniel
Saludos,

Daniel Aarão Reis
Professor de História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
21 de maio de 2015

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/daniel-aarao-reis-afirma-que-greve-federal-nao-legitima-16249463#ixzz3mmjPfLsx

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Entre o termômetro e a febre

                
*Por Itaan Arruda

Algumas discussões aqui por esses barrancos trilham um varadouro tão tortuoso que dificulta o entendimento. O episódio sobre o erro no cálculo de algumas médias no processo seletivo da Ufac é um deles. Primeiro, é necessário esclarecer a desinformação geral sobre o assunto: muitas pessoas não distinguiram a seleção feita pela Ufac da nota do Enem. Acharam que tudo era uma coisa só. Talvez, esqueceram de ler o edital da instituição, onde estão a fórmula e os crité-rios de desempate.
A reclamação foi geral: dos candidatos que se sentiram prejudicados até companheiros de profissão menos exigentes com apuração e que adoram manchetes mais “quentes”. Houve também parlamentares que aproveitaram a oportunidade para defender a bandeira do vestibular, agora resgatado à condição de mediador por uma educação emancipadora. Houve até quem sugerisse uma “cota para acreanos”, uma espécie de blindagem à mediocridade a quem não conseguiu ser suficientemente competitivo por meio do estudo.
Algumas correções são necessárias. Primeiro, é preciso lembrar que há até bem pouco tempo o exame vestibular era excomungado por educadores pelas mais diversas razões. Chegou-se ao Enem (demonizado, inclusive pela União Nacional dos Estudantes que propôs boicote na primeira edição do exame). Hoje, o entendimento é de que o Enem é uma conquista e deve ser defendido e aperfeiçoado.
A defesa repentina de alguns parlamentares pela volta do vestibular é, digamos, eleitoralmente compreensível: melhor se solidarizar a mil derrotados da aldeia a parabenizar a vitória por méritos dos “estrangeiros”.
A “cota para acreanos” entra na categoria do delírio. Ainda bem que contamos com a lucidez de um acreano que nos orgulha. Lucas Buriti de Melo: 7º colocado em Direito. “Não tenho informação de nenhum acreano que tenha sido impedido de estudar em alguma universidade federal por ser acreano”, afirmou o jovem de 16 anos. “O que precisamos é encontrar mecanismos de melhorar a educação básica e criar modos de incentivo ao estudo”.
Como estamos em tempos de grandes projetos, não vai tardar a aparecer um parlamentar federal (em parceria com o Governo do Acre) defendendo a criação de uma universidade estadual. Será um erro. A retórica, claro, será linda e terá ressonância “popular”: nesses tempos bicudos, o voto é a moeda que mais importa pelos rios daqui.
Qualquer centavo investido na construção de uma universidade estadual será um equívoco, por lógico: o que deveria ser feito é fortalecer a Ufac. Se há tanto dinheiro no Acre para investir e manter uma nova instituição de Ensino Superior, por que não canalizar esses recursos para a universidade federal? Qual será o sofisma formulado pelo Palácio Rio Branco para justificar o empreendimento?
São Paulo, um estado de cifras bem menos modestas que o Acre, sabe o peso de manter a estrutura de uma universidade estadual. Desfez-se de parte dela.
*Itaan Arruda é jornalista. itaan.arruda@gmail.com

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Lançamento de Livro



Convido todos e todas para o lançamento dos livros RIMBAUD ETC. e VER HISTÓRIA no campos da URCA (Crato, CE).

Abraços:Marcos Silva

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Nosso Sócrates

"É um azar, pior para o futebol”, disse Sócrates após a derrota da seleção brasileira para a Itália na Copa do Mundo de 1982. Foto: Jorge Duran/AFP


Nunca houve um ídolo como Sócrates

Bons jogadores surgem todos os anos. Só alguns viram ídolos. Desde o começo dos anos 90, quando fomos picados pela praga do futebol, vimos nascer muitos craques (e muitos tantos se perderem).

Na ordem: Raí (irmão de Sócrates), Edmundo, Rivaldo, Edílson, Ronadinho (hoje Ronaldo), Amoroso, Marcelinho Carioca, Giovani, Rogério Ceni, Luis Fabiano, Alex, Ronaldinho (o Gaúcho), Kaká, Robinho, Adriano, Fred, Kleber, Ganso e, agora, Neymar.

Desses, alguns já deixaram de jogar, e poucos, a muito custo (e com o devido distanciamento temporal), ainda podem ser chamados de craques.

Entre todos eles, e tantos que não dá nem para citar, poucos podemos dizer que são, de fato, especiais, revolucionários, exemplares. Engajados, então…

Mesmo com o selo de embaixadores de entidades como a Unicef ou órgãos representativos (como a CBF…) ao longo ou ao fim da carreira, nenhum desses jogadores teve leitura melhor de seu esporte, de seu tempo e de seu País do que Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, morto na madrugada deste domingo 4.

Não, não vimos Doutor Sócrates em campo. Nós, que ainda não chegamos aos 30, dele sabemos apenas dos melhores momentos, pela tevê, de uma Copa que se acabava quando mal tínhamos nascido – e que foi a prova de que não é preciso ser campeão para ser inesquecível. Uma seleção em que Sócrates era maestro e referência.

Fora de campo, nenhum ex-jogador foi tão presente como ele. Pelé virou garoto-propaganda (poucas vezes o vimos falar algo que não fosse ensaiado, escrito anteriormente para campanhas para a educação ou disfunção sexual); Garrincha morreu novo, sem deixar grandes reflexões sobre seu ofício; Rivelino e Falcão, ambos acima da média, viraram comentaristas (um já se arriscou como dirigente e outro, como treinador).

Zico virou boa-gente, daqueles que se pode ficar a tarde toda falando sobre o mundo da bola, o Rio, o Japão, os bastidores da Copa, a relação com a torcida. É diferenciado.

E Romário começa a mudar paradigmas, com uma atuação implacável como deputado federal eleito pelo Rio.
Sócrates Brasileiro - 1954 - 2011. Foto: U. Dettmar/ABr

E paramos aqui. Quem não sumiu (ou se omitiu), anda por aí fazendo o elogio da ignorância no papel de arrivista de primeira linha – daqueles que se infiltram entre os boleiros para desfilar preconceitos ao vivo na tevê. Um certo ex-meio-campo que virou comentarista é talvez o maior exemplo deles, uma espécie de porta-voz de atletas mimados, pipoqueiros, vazios e malcriados.

Mas Sócrates era outra coisa. Ninguém tinha tanto a falar sobre o mundo em que viveu e o mundo que deixaria como herança – um mundo um pouco melhor do que o seu, mais aberto, mais democrático. Tão democrático que, quando soube que precisaria de um transplante de fígado para se curar, lembrou, a quem quisesse ouvir, que era um cidadão como qualquer outro. E que, portanto, deveria esperar sua vez, na fila para doação, como qualquer brasileiro – sem privilégios, lobbies, choros ou vela..

Sócrates chamava a atenção desde as categorias de base de seu Botafogo, de Ribeirão Preto. Destacava-se dentro das quatro linhas, e chamava a atenção dos repórteres que o viam em alguma preliminar dos juniores. Quando alguém demonstrava admiração pelo seu futebol, os repórteres da região que já o conheciam avisavam: “E olhe que ele não tem tanto tempo para treinar. É estudante de medicina”.

As condições sociais, as pressões, os compromissos dentro e fora de campo tornam quase uma covardia dizer que, como Sócrates, todos deveriam ter as mesmas referências, os mesmos estudos, a mesma base, a mesma formação.

Ele fez a escolha pela bola, e a maioria, não.

É fato que poucos corintianos seriam capazes de deixá-lo fora de uma seleção dos melhores jogadores de todos os tempos. Mas, diferentemente da maioria, a bola para ele nunca foi uma ponte apenas para o sucesso, a fama, a idolatria.

A bola, para Sócrates, foi uma espécie de palanque que lhe permitiu compartilhar ideias, críticas, indignação verdadeira com o estado das coisas.
Sócrates, ao lado do presidente Lula, durante partida entre políticos e ex-jogadores na Granja do Torto, em Brasília, em 2005. Foto: U. Dettmar/ABr
Quem se não ele? Dotado de uma inteligência que, no meio-campo, permitia ver espaços e jogadas que ninguém mais via, com a rapidez que só os gênios da bola dominam, Sócrates era também um visionário das brechas de seu tempo, de sua história. Uma história da qual sempre foi sujeito ativo. Coragem para isso não lhe faltou.

E é essa imagem que levamos dele. Brilhar pode não ser fácil. Mesmo assim, muitos brilharam, muitos driblaram, muitos marcaram gols antológicos e correram para a torcida.

Ao fim do jogo, o que disseram para toda essa gente de pé, que aplaude e vaia (e ouve)? Que espetem seus cabelos à moicano? Que usem faixas na testa? Que comprem o maior número de carros importados para apagar qualquer resquício das origens humildes?

Ou que rasguem bandeiras, pensem e lutem por um mundo melhor, menos desigual, mais humano? E dialoguem de igual para igual com cartolas (muitos ainda são déspotas, esclarecidos ou não), jornalistas, poder público?

De Sócrates não haverá grande jogada, gol ou vibração que se compare com a sua postura, coerência, engajamento e inteligência fora de campo.

O mundo seria melhor se houvesse dois Sócrates a cada século.


*Texto escrito a quatro mãos por Matheus Pichonelli e Fernando Vives
Fonte: Carta Capital

Acre: Primeiro shopping muda cenário econômico

9/12/2011 10:46, Por Redação, com Reuters - do Rio Branco/Acre
Via Verde Shopping
O Estado espera um aumento significativo na arrecadação fiscal graças ao shopping Via Verde,
que para muitos não é o primeiro do Acre

Às vésperas do Natal, os moradores de Rio Branco poderão, pela primeira vez, escolher entre fazer suas compras nas tradicionais lojas de rua ou no conforto de um shopping center. Foi apenas há um mês que o Acre, no ponto extremo do Brasil, ganhou seu primeiro shopping.
Reflexo do contínuo desenvolvimento econômico de Rio Branco, que reúne quase metade da população do Estado -um dos menos povoados do país-, o Via Verde Shopping recebeu investimentos da ordem de R$150 milhões e, ao gerar 2.200 empregos diretos, passou a ser o maior empregador privado do Acre.
O montante investido era o mesmo previsto inicialmente em vendas para o primeiro ano de operação do shopping. A estimativa foi elevada para R$200 milhões, após desempenho visto no primeiro mês, quando o público foi de 400 mil pessoas, número bem acima do esperado. Em novembro, o faturamento foi de R$10 milhões, montante que deve dobrar no último mês do ano.
– Na rua as lojas são muito espalhadas, aqui tem tudo junto. A gente anda menos sem passar calor– , disse o músico Renato Melo, acompanhado da manicure Ivone da Silva, que acrescentou: “é muito bom o conforto e o ar condicionado”.
Com 138 lojas e um hipermercado, o Via Verde é um shopping térreo em uma área de 120 mil metros quadrados em uma localidade ainda pouco explorada da capital acreana, cercada de vegetação e terrenos disponíveis.
O Estado espera um aumento significativo na arrecadação fiscal graças ao shopping, que deve ter todas as lojas em operação em janeiro.
– As condições econômicas do Acre ganharam fôlego na última década. Com o shopping, a economia do Estado está integrada pela primeira vez– disse à agência inglesa de notícias Reuters o secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio do Acre, Edvaldo Magalhães (PCdoB).

Vetor de crescimento

O governo estadual e a prefeitura da capital se encarregaram de criar a infraestrutura no entorno do empreendimento. O local não tinha, por exemplo, rede de esgoto.
Agora, a área do Via Verde pode se tornar o vetor de crescimento de Rio Branco. O Carrefour, por exemplo, instalará sua primeira loja no Acre (sob a bandeira Atacadão) em um terreno que acabou de adquirir naquela região. O governo estadual, por sua vez, está levando alguns dos prédios de órgãos públicos para as redondezas do shopping.
– Além de garantir uma opção a mais para os consumidores, (o shopping) puxou outros serviços e ocupou o espaço da carência de lazer na cidade– acrescentou o secretário.
A carioca Landis Shopping Centers, operadora responsável pela construção e administração do Via Verde, começou a “olhar” o Acre há cerca de seis anos. Rio Branco era uma das potenciais cidades para abrigar o primeiro empreendimento do grupo na região Norte.
Não fosse a crise econômica mundial em 2008, que travou os investimentos e projetos de forma generalizada, o Acre teria recebido seu primeiro shopping dois anos antes.
– Além da demanda, um fator preponderante para instalar um shopping é ter investidores dispostos a apostar nesses mercados– disse o presidente da Landis, Dorival Regini. “Há dez anos, ninguém queria investir em imóvel, que era sinônimo de baixo retorno. Com mais disponibilidade de recursos, os investidores passaram a buscar mais oportunidades.”
A Landis tem como sócios no Via Verde a gestora de fundos Prosperitas, a consultoria e gestora de recursos Bicar e a empresa do segmento imobiliário LGR.

Mudança de hábito

O shopping pode ser responsável por uma mudança radical no comportamento do consumidor, que costumava ir às compras em Cobija, na Bolívia, fronteira com a cidade acreana de Brasileia, em busca de eletrônicos, roupas e brinquedos mais baratos por praticamente não haver incidência de impostos.
Nos corredores do shopping de fachada e decoração simples, é mais comum encontrar pessoas fotografando umas às outras do que carregando sacolas de compras.
– A população não tem hábito de comprar em shoppings, e isso não muda da noite para o dia. O consumo em shoppings vai sendo incorporado à cultura do local, mas leva tempo– afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da FIA, Cláudio Felisoni.
Segundo a operadora do shopping, uma das reclamações mais frequentes envolve a cobrança de R$3 pelo uso do estacionamento por um período de 3 horas. O Via Verde possui 1.169 vagas de estacionamento descoberto.
E o preço dos produtos ainda parece afugentar os consumidores, que elegeram o shopping como um ponto de encontro e espaço de lazer seguro e agradável na cidade onde os termômetros chegam a marcar 42 graus durante o dia.
– Estava precisando de um shopping, mas ainda falta muita coisa. Achei mais caro, em outros Estados é mais barato– disse a enfermeira Ana Araújo.

O mito da escada rolante

Somada às questões envolvendo o preço por produtos e serviços, os comentários sobre o formato do primeiro shopping local ganharam proporções além do esperado. Tudo porque o Via Verde não possui escadas rolantes.
– Optamos pelo shopping térreo pelo custo operacional de construção e manutenção. Mas, na cabeça do consumidor, shopping tem que ter escada rolante– reconheceu Regini, da Landis.
O departamento de marketing do shopping administra diariamente reclamações e críticas envolvendo a ausência de escadas rolantes no local.
Outra discussão polêmica envolve a apresentação do Via Verde como primeiro shopping do Acre. Para muitos, o Mira Shopping, criado no final da década dos anos 1990 por uma família de empreendedores locais, no centro de Rio Branco, deveria ser considerado o precursor.
No formato de galeria, o Mira não conseguiu atrair lojas-âncora, o que foi apontado como motivo para seu fracasso.
– O Mira Shopping tinha escada rolante… Era shopping mesmo. (O Via Verde) é um galpão cheio de lojas. Esperava algo melhor, no padrão de outros Estados– reclamou o gerente de uma loja de CDs e DVDs numa das ruas de comércio popular de Rio Branco.

Comércio de rua

Embora a instalação do Via Verde Shopping seja vista com bons olhos por associações, empresários e pela própria população, o empreendimento ainda enfrenta certa resistência de consumidores sem o hábito de comprar em complexos desse tipo.
Entre os lojistas, principalmente aqueles de rua, o sentimento também foi de descrédito e pessimismo.
– O shopping chegou como opção para as classes A, B e C. As classes inferiores seguem no comércio de rua– assinalou o presidente da Associação Comercial e Industrial do Acre, João Batista Fecury Bezerra.
Segundo ele, um dos principais papéis do shopping é o de incentivar a concorrência. Desde a construção do Via Verde, os comerciantes de rua em Rio Branco vêm se reestruturando em termos de política de preços e de marketing, para se adaptar e competir com as condições do shopping.
– (O shopping) ainda não refletiu em queda nas vendas de rua, mas depois do Natal deve acirrar– acrescentou Bezerra.
Gerente de uma loja popular de moda jovem, Adriano do Valle discorda e garante não temer qualquer retração no movimento da loja. “Não teve, nem vai ter (queda nas vendas). O público que compra aqui não compra em shopping”, disse, referindo-se às lojas concentradas em uma galeria no centro de Rio Branco.
Com os mesmos preços praticados nas lojas de rua, a rede popular Casa da Sogra, tradicional da região Norte, instalou uma unidade no Via Verde, onde traçou a meta de faturamento de R$800 mil para dezembro. Segundo o gerente Jaderson Soares, as vendas já estão maiores que o esperado, com uma média diária de R$20 mil a R$30 mil.
– A região Norte é a que mais cresceu de 2004 para cá e tem grande potencial para ser explorada em termos de consumo justamente pela migração das classes de renda– afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da FIA, Cláudio Felisoni. “É um processo natural de expansão. As empresas estão migrando para centros de menor atratividade, que estão sendo incorporados ao mapa de consumo”.

Fonte: Correio do Brasil - http://correiodobrasil.com.br/