sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Acre: Primeiro shopping muda cenário econômico

9/12/2011 10:46, Por Redação, com Reuters - do Rio Branco/Acre
Via Verde Shopping
O Estado espera um aumento significativo na arrecadação fiscal graças ao shopping Via Verde,
que para muitos não é o primeiro do Acre

Às vésperas do Natal, os moradores de Rio Branco poderão, pela primeira vez, escolher entre fazer suas compras nas tradicionais lojas de rua ou no conforto de um shopping center. Foi apenas há um mês que o Acre, no ponto extremo do Brasil, ganhou seu primeiro shopping.
Reflexo do contínuo desenvolvimento econômico de Rio Branco, que reúne quase metade da população do Estado -um dos menos povoados do país-, o Via Verde Shopping recebeu investimentos da ordem de R$150 milhões e, ao gerar 2.200 empregos diretos, passou a ser o maior empregador privado do Acre.
O montante investido era o mesmo previsto inicialmente em vendas para o primeiro ano de operação do shopping. A estimativa foi elevada para R$200 milhões, após desempenho visto no primeiro mês, quando o público foi de 400 mil pessoas, número bem acima do esperado. Em novembro, o faturamento foi de R$10 milhões, montante que deve dobrar no último mês do ano.
– Na rua as lojas são muito espalhadas, aqui tem tudo junto. A gente anda menos sem passar calor– , disse o músico Renato Melo, acompanhado da manicure Ivone da Silva, que acrescentou: “é muito bom o conforto e o ar condicionado”.
Com 138 lojas e um hipermercado, o Via Verde é um shopping térreo em uma área de 120 mil metros quadrados em uma localidade ainda pouco explorada da capital acreana, cercada de vegetação e terrenos disponíveis.
O Estado espera um aumento significativo na arrecadação fiscal graças ao shopping, que deve ter todas as lojas em operação em janeiro.
– As condições econômicas do Acre ganharam fôlego na última década. Com o shopping, a economia do Estado está integrada pela primeira vez– disse à agência inglesa de notícias Reuters o secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio do Acre, Edvaldo Magalhães (PCdoB).

Vetor de crescimento

O governo estadual e a prefeitura da capital se encarregaram de criar a infraestrutura no entorno do empreendimento. O local não tinha, por exemplo, rede de esgoto.
Agora, a área do Via Verde pode se tornar o vetor de crescimento de Rio Branco. O Carrefour, por exemplo, instalará sua primeira loja no Acre (sob a bandeira Atacadão) em um terreno que acabou de adquirir naquela região. O governo estadual, por sua vez, está levando alguns dos prédios de órgãos públicos para as redondezas do shopping.
– Além de garantir uma opção a mais para os consumidores, (o shopping) puxou outros serviços e ocupou o espaço da carência de lazer na cidade– acrescentou o secretário.
A carioca Landis Shopping Centers, operadora responsável pela construção e administração do Via Verde, começou a “olhar” o Acre há cerca de seis anos. Rio Branco era uma das potenciais cidades para abrigar o primeiro empreendimento do grupo na região Norte.
Não fosse a crise econômica mundial em 2008, que travou os investimentos e projetos de forma generalizada, o Acre teria recebido seu primeiro shopping dois anos antes.
– Além da demanda, um fator preponderante para instalar um shopping é ter investidores dispostos a apostar nesses mercados– disse o presidente da Landis, Dorival Regini. “Há dez anos, ninguém queria investir em imóvel, que era sinônimo de baixo retorno. Com mais disponibilidade de recursos, os investidores passaram a buscar mais oportunidades.”
A Landis tem como sócios no Via Verde a gestora de fundos Prosperitas, a consultoria e gestora de recursos Bicar e a empresa do segmento imobiliário LGR.

Mudança de hábito

O shopping pode ser responsável por uma mudança radical no comportamento do consumidor, que costumava ir às compras em Cobija, na Bolívia, fronteira com a cidade acreana de Brasileia, em busca de eletrônicos, roupas e brinquedos mais baratos por praticamente não haver incidência de impostos.
Nos corredores do shopping de fachada e decoração simples, é mais comum encontrar pessoas fotografando umas às outras do que carregando sacolas de compras.
– A população não tem hábito de comprar em shoppings, e isso não muda da noite para o dia. O consumo em shoppings vai sendo incorporado à cultura do local, mas leva tempo– afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da FIA, Cláudio Felisoni.
Segundo a operadora do shopping, uma das reclamações mais frequentes envolve a cobrança de R$3 pelo uso do estacionamento por um período de 3 horas. O Via Verde possui 1.169 vagas de estacionamento descoberto.
E o preço dos produtos ainda parece afugentar os consumidores, que elegeram o shopping como um ponto de encontro e espaço de lazer seguro e agradável na cidade onde os termômetros chegam a marcar 42 graus durante o dia.
– Estava precisando de um shopping, mas ainda falta muita coisa. Achei mais caro, em outros Estados é mais barato– disse a enfermeira Ana Araújo.

O mito da escada rolante

Somada às questões envolvendo o preço por produtos e serviços, os comentários sobre o formato do primeiro shopping local ganharam proporções além do esperado. Tudo porque o Via Verde não possui escadas rolantes.
– Optamos pelo shopping térreo pelo custo operacional de construção e manutenção. Mas, na cabeça do consumidor, shopping tem que ter escada rolante– reconheceu Regini, da Landis.
O departamento de marketing do shopping administra diariamente reclamações e críticas envolvendo a ausência de escadas rolantes no local.
Outra discussão polêmica envolve a apresentação do Via Verde como primeiro shopping do Acre. Para muitos, o Mira Shopping, criado no final da década dos anos 1990 por uma família de empreendedores locais, no centro de Rio Branco, deveria ser considerado o precursor.
No formato de galeria, o Mira não conseguiu atrair lojas-âncora, o que foi apontado como motivo para seu fracasso.
– O Mira Shopping tinha escada rolante… Era shopping mesmo. (O Via Verde) é um galpão cheio de lojas. Esperava algo melhor, no padrão de outros Estados– reclamou o gerente de uma loja de CDs e DVDs numa das ruas de comércio popular de Rio Branco.

Comércio de rua

Embora a instalação do Via Verde Shopping seja vista com bons olhos por associações, empresários e pela própria população, o empreendimento ainda enfrenta certa resistência de consumidores sem o hábito de comprar em complexos desse tipo.
Entre os lojistas, principalmente aqueles de rua, o sentimento também foi de descrédito e pessimismo.
– O shopping chegou como opção para as classes A, B e C. As classes inferiores seguem no comércio de rua– assinalou o presidente da Associação Comercial e Industrial do Acre, João Batista Fecury Bezerra.
Segundo ele, um dos principais papéis do shopping é o de incentivar a concorrência. Desde a construção do Via Verde, os comerciantes de rua em Rio Branco vêm se reestruturando em termos de política de preços e de marketing, para se adaptar e competir com as condições do shopping.
– (O shopping) ainda não refletiu em queda nas vendas de rua, mas depois do Natal deve acirrar– acrescentou Bezerra.
Gerente de uma loja popular de moda jovem, Adriano do Valle discorda e garante não temer qualquer retração no movimento da loja. “Não teve, nem vai ter (queda nas vendas). O público que compra aqui não compra em shopping”, disse, referindo-se às lojas concentradas em uma galeria no centro de Rio Branco.
Com os mesmos preços praticados nas lojas de rua, a rede popular Casa da Sogra, tradicional da região Norte, instalou uma unidade no Via Verde, onde traçou a meta de faturamento de R$800 mil para dezembro. Segundo o gerente Jaderson Soares, as vendas já estão maiores que o esperado, com uma média diária de R$20 mil a R$30 mil.
– A região Norte é a que mais cresceu de 2004 para cá e tem grande potencial para ser explorada em termos de consumo justamente pela migração das classes de renda– afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da FIA, Cláudio Felisoni. “É um processo natural de expansão. As empresas estão migrando para centros de menor atratividade, que estão sendo incorporados ao mapa de consumo”.

Fonte: Correio do Brasil - http://correiodobrasil.com.br/

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